A APARÊNCIA, O OUTRO PROBLEMA DAS ÁRBITRAS.

 

O caso de Manuela Nicolosi de 45 anos, árbitra italiana com mais de 200 jogos dirigidos entre futebol masculino e feminino, expõe uma problemática persistente na arbitragem profissional: discriminação baseada na aparência física.

Apesar de sua vasta experiência em torneios de elite, incluindo Jogos Olímpicos e finais do Mundial feminino, Nicolosi foi avisada no passado para “moderar sua aparência” por atrair muita atenção.

A sua aparência, mais do que os seus méritos ou o seu desempenho técnico, acabou se tornando um obstáculo que o impediu de subir na estrutura arbitral italiana

A arbitra italiana alegou que, embora tivesse concordado em não promover por não ter ultrapassado provas físicas ou técnicas, não podia compreender que o seu físico fosse a razão por trás da sua estagnação.

Este fato afetou não só a sua carreira, mas também a sua motivação, levando-a a deixar a Itália aos 20 anos em busca de oportunidades mais justas.

O seu testemunho expõe uma dupla discriminação: por ser mulher e por ser considerada “atraente”, colocando-a numa posição de constante escrutínio e desconfiança.

A profissional não foi julgada pelas suas escolhas dentro do campo, mas pela sua aparência fora dele, um reflexo do olhar machista que ainda permeia as estruturas esportivas.
O futebol, como muitos outros espaços de poder e visibilidade, continua arrastando uma cultura que associa autoridade à masculinidade.

Quando uma mulher ocupa o papel de árbitra, essa autoridade é constantemente testada.

Se sua presença for "atraente", o preconceito é duplicado:
é percebida como distração,
não como figura de respeito
Hoje, longe do futebol profissional, Nicolosi continua arbitrando na Liga de Reis da Itália, espaço onde, segundo relata, já não ouve comentários sexistas nem recebe olhares desconfortáveis.

No entanto, a sua história revela uma dívida estrutural:
a necessidade de construir ambientes desportivos onde as mulheres possam exercer a sua autoridade sem que a sua aparência seja motivo de sanção ou suspeita.

O problema não está em ser atraente, mas sim numa cultura que continua a não aceitar que uma mulher, qualquer que seja a sua aparência, possa ser também uma voz de comando no campo de jogo.

A luta de Nicolosi, em última análise, não é apenas pela arbitragem feminina, mas pelo direito das mulheres a serem reconhecidas pela sua capacidade e não pela sua imagem.

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