“L’arbitro”
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Na já longínqua temporada de 2004/05, o futebol italiano viu-se metido numa embrulhada chamada Calciopoli – ou Moggiopoli -, que meteu ao barulho algumas das principais equipas italianas, envolvidas num elaborado esquema de manipulação de resultados.
Após algumas reviravoltas e condescendências obtidas na justiça, a Juventus foi relegada para a Série B, iniciando a competição com 17 pontos a menos. Lazio e Fiorentina disputaram a Série A, começando a época respectivamente com 11 e 19 pontos negativos.
O Milan começou a Série A com menos oito pontos, mas ainda assim pôde jogar a Liga dos Campeões.
Embora não estando directamente envolvidos no caso, Reggina e Siena foram também sancionados com perda de pontos (-11 e -1 ponto, respectivamente), naquele que foi provavelmente o maior caso provado de corrupção no mundo do desporto-rei – e que envolveu também dirigentes de clubes, da Federação Italiana e árbitros.
“L’arbitro”, filme escrito e realizado por Paolo Zucca em 2013 – disponível para aluguer na plataforma Spamflix -, está longe de ser um documentário sobre o Calciopoli ou a corrupção em Itália, mas a verdade é que oferece um retrato exemplar, tirado num preto e branco e à boleia de uma direcção de fotografia excepcional, dos muitos cordelinhos invisíveis que vão desvirtuando um desporto seguido por milhões em toda a parte do globo, mas também da paixão verdadeira e violenta que este desporto desperta no ser mais temperado ou avesso a confusões.
Tal como num livro policial, a trama decorre a dois tempos, correspondentes a duas geografias que parecem estar nos antípodas culturais, civilizacionais e outros ais.
De um lado temos o Atletico Pabarile, a pior equipa da terceira divisão da Sardenha, que ano após ano se vê sovada pelo Montecrastu, uma equipa de caceteiros comandada por Brai, um fazendeiro arrogante.
Um cenário que se altera com a chegada de Matzutzi (Jacopo Cullin) , um jovem com pinta, cabelo e pezinhos de futebolista, que regressa à aldeia e ao clube para vestir o número 10.
Como que por milagre, o Atletico Pabarile começa a ganhar jogo atrás de jogo, numa luta taco a taco com o Montecrastu pelo título de campeão.
Do outro lado temos Cruciani (Stefano Accorsi) , ou Principe Cruciani, um árbitro ambicioso e com muito jogo de pernas e de cintura, que sonha com arbitrar a final da Liga dos Campeões.
Nem que, para tal, se tenha de rodear de más companhias ou aceitar um embrulho suspeito.
Num filme que é quase um baile com bola filmado em câmara lenta, Paolo Zucca mostra-nos toda a arte e obsessão de que é feito o futebol – mas também os ódios e amores que alimentam e mantêm viva uma pequena comunidade -, num cocktail onde cabem conversas de balneário, treinadores de bancada, choros forçados nos funerais, a máfia da FIFA, insultos fofinhos como “não vais chegar a casa logo à noite” ou roubalheiras que até mesmo um cego consegue ver.
Se Jean-Pierre Jeunet tivesse realizado um filme sobre futebol, esse filme seria certamente este “L’arbitro”.
Paolo Zucca nasceu na Sardenha, no ano de 1972. Após estudar literatura moderna em Florença, ganhou uma bolsa de estudos para a Escola de Roteiristas de Cinema e TV da RAI. Formou-se como director pela N.U.C.T na Cinecittà, e o seu trabalho de final de curso foi a curta Banana Rossa (2005). “O Árbitro”, esta sua primeira longa-metragem, foi baseada na sua curta homónima de 2009, que levou para casa o prémio David di Donatello.
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