Só a profissionalização resolve? Entenda por que a arbitragem no Brasil não consegue avançar

Erros graves, polêmicas de arbitragens e acusações de manipulações de resultados estouraram no futebol nos últimos anos

Independente de quem seja campeão brasileiro, da Libertadores ou da Copa do Brasil em 2025, não dá para ignorar o peso do debate de arbitragem na construção do futebol no Brasil. 

A atual temporada atingiu o ápice da crítica de jogadores, dirigentes, torcedores e demais instituições ao desempenho da arbitragem no país.

Como árbitros são formados?

O atual modelo de formação de arbitragem no Brasil é delegado a cada uma das federações estaduais.

Em geral, todos aqueles que estiverem interessados em atuar como árbitro devem procurar a escola de formação de árbitros estaduais e pagar uma taxa para realizar um curso de formação.

Antes de ingressar no escola de formação é necessário, no mínimo, ter ensino médio completo. 

Não há necessidade de realizar uma prova para entrar na escola de formação, apenas na época da formatura. 

Para um árbitro que quiser começar sua formação no Rio de Janeiro, por exemplo, terá de pagar uma taxa de R$ 4 mil à federação local e fazer um curso pelo período de 12 meses.


Paulo Caravina, dono do perfil “Sou Do Apito”, diz que o modelo, descentralizado, muitas vezes dificulta a padronização de critérios, uma vez que cada estado tem uma vertente diferente na formação de seus árbitros.

"Para você ter uma ideia, são 27 federações. Então são 27 instruções diferentes.

O Daronco, ele não vai apitar igual o Claus. 
O Claus não vai apitar igual o Wilton. 
São de federações diferentes. 

Por mais que eles atinjam o topo, vão ser arbitragens diferentes", explica Caravina.

Arbitragem é “bico”, mas nem tanto

E por mais que tenham de passar por uma escola de formação e uma prova de qualificação, árbitros não são considerados trabalhadores formais e são pagos com “cachês” de acordo com as partidas que apitam. 

Com isso, muitos são obrigados a deixar a arbitragem como uma função secundária e acabam focando em trabalhos com carteira assinada ou outros empreendimentos.

Um dos árbitros que já se manifestou sobre o tema é o capixaba Davi Lacerda, que apita partidas da primeira e segunda divisão do Campeonato Brasileiro corriqueiramente. 

Em entrevista ao portal Uol, o juiz revelou ser gerente de uma serralheria, sua principal fonte de renda: “Não conto com dinheiro da arbitragem”.

Em partidas da série A, árbitros recebem cotas fixas pré-estabelecidas. 

Juízes FIFA ou Master (categoria mais prestigiada da arbitragem) recebem R$ 7,28 mil por partida, enquanto árbitros do quadro da CBF recebem R$ 5,25 mil por jogo apitado. 

Já os assistentes do VAR e da beirada de campo recebem cachês que variam de R$ 4,37 mil a R$ 1,38 mil. 

A CBF também se responsabiliza por bancar a hospedagem e viagens dos árbitros nos locais das partidas.


No entanto, há o outro lado da moeda, segundo Paulo Caravina, uma demanda dos árbitros no país é a profissionalização, que consiste na contratação formal do quadro de arbitragem para competições da CBF, com salários fixo. 

O motivo é a falta de tempo para continuarem atuando nas funções do dia a dia, uma vez que o calendário do Brasileirão os obriga a viajar constantemente pelo país por uma ou duas vezes na semana.

“A maioria, pelo menos que eu tenho contato, pede a profissionalização. Eles precisam dessa estabilidade. Muito porque hoje eles estão apitando tanto, tanto, tanto que eles quase não conseguem desempenhar mais as funções fora disso”, explica.

Outro fator importante levantado por Caravina é a questão das punições. 

Quando um árbitro é afastado de suas funções ele, por consequência, fica sem receber os valores que receberia ao apitar jogos, causando instabilidade financeira.


“Ele entra em campo com medo de de ser punido e ficar sem apitar e fica sem receber. A ideia da profissionalização seria ele receber mesmo que esteja afastado”, detalha.

A profissionalização, no entanto, deve demorar um pouco para ser implementada no Brasil. 

Segundo o presidente da CBF, Samir Xaud, a discussão está em pauta, mas não deu um prazo para uma possível implementação do projeto.

“É uma discussão que segue em pauta, sim. É uma coisa mais profunda. Nós estamos tendo essas discussões e esse grupo também vai tratar sobre isso. É uma coisa mais delicada, que requer um certo tempo, um certo estudo. Mas está em pauta também”, explicou.

A profissionalização sozinha resolve?

Apesar de muitas vezes ser colocada como a “solução” para diminuição dos erros de arbitragem, Paulo Caravina diz que só a implementação do modelo não resolve. 

Segundo ele, além da dificuldade de se elaborar um modelo para concentração de árbitros e qualificação em apenas um local, há a necessidade de mais estudo e atenção por conta dos profissionais de arbitragem no Brasil.

“Se a profissionalização for implementada, a gente vai concentrar os árbitros aqui (…) o meu pensamento é assim, a gente vai ter uma uma base de 100 árbitros aí para trabalhar nas quatro divisões aí do Brasil. Precisa de um pouquinho mais, acho que 150 precisa. Mas esses 150, eles vão morar na mesma cidade, eles vão treinar todos os dias, vão viver na arbitragem, vão ter os mesmos instrutores, ter as coisas”, debate.

No entanto Caravina afirma que não necessariamente árbitros profissionalizados são bons. 

Segundo ele, a profissionalização pode causar um efeito rebote, onde árbitros estejam pouco motivados a se capacitarem: 
“Hoje temos dois exemplos de profissionalização 
a Premier League (Inglaterra) e a LaLiga (Espanha). 
E eu juro para você que acho a arbitragem da LaLiga pior do que a do Brasil. 
Eu vejo muito dessa falta de competitividade, são sempre os mesmos, não tem gente querendo nova, 
querendo boa entrar, uma pessoa que saiba interpretar”.


No entanto, o especialista deixa claro que a arbitragem no Brasil tem graves problemas, o principal deles é muitas vezes juízes que não sabem interpretar a regra: 
“Não é desmerecendo o ser humano, não é nada. 
Mas querendo ou não, a gente precisa de pessoas 
que saibam interpretar a regra 
e querendo ou não 
ali tem muitas pessoas que, cara, 
não tem, não tem condição”.

Atualmente, não há um modelo constante de treinamentos de capacitação, no entanto, árbitros CBF e FIFA que atuam nas primeiras divisões do Brasil passam por treinamentos esporádicos em Centros de Treinamento da CBF, como, por exemplo, a Granja Comary, em Teresópolis, onde a Seleção Brasileira se prepara. 

No entanto, esses treinamentos ocorrem poucas vezes ao ano. 
Tornar esses treinos diários 
é um bom passo 
para melhorar a arbitragem no país.

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