Futebol e ciência combinam?
O futebol é o esporte mais disputado no Brasil, e sempre foi também de muito ‘achismo’, onde as opiniões acerca dos jogos e escalações tem grande interferência.
Quantos milhões de vulgos técnicos, críticos e analistas existem por aí dando opiniões das mais variadas formas.
Não que seja proibido dar opiniões, mas geralmente elas são carregadas de visão rasa e de fatores emocionais.
Acreditar cegamente na imprevisibilidade do futebol é o senso comum.
Por outro lado, existe o futebol ciência, onde procura-se estudar mecanismos que auxiliem os jogadores e comissões.
Com auxílio de máquinas e sensores, profissionais estudam os detalhes que possam influenciar o desempenho dos atletas, da respiração ao jeito de pisar, por exemplo.
Procura-se muito o melhor caminho, aquele que é considerado certo, pois teoricamente é só segui-lo que deixaria mais próximos da vitória.
Porém a verdade é que não existe isso no futebol. Bielsa e os outros auxiliares, apoiados por uma rede de análise de desempenho, estudam os rivais apenas para tentar minimizar ao máximo os impactos do ambiente caótico e imprevisível que é o jogo, mas não há como controlar isso em sua totalidade.
O jogo é um ambiente complexo, com aspectos como torcida, relapsos de atenção de nossos jogadores, reação do adversário para cada ação de nossa equipe, o tempo (chuvoso, ensolarado...) e por aí vai.
Curiosidades dos números
A matemática/estatística explica muita coisa, inclusive, o resultado de jogos por meio das análises de dados performáticos. E cada dia que passa, essa ciência anda ganhando espaço dentro do esporte. Existem especialistas que analisam cada detalhe de um jogo de futebol.
Em 2005 foi realizado um estudo, que revelou que a maneira mais eficiente de defender uma penalidade máxima é ficar parado.
Foram analisadas 286 cobranças das maiores ligas europeias e constataram que permanecer no centro do gol é a forma mais segura de agarrar. Mas os goleiros escolhem saltar para direita ou para esquerda, pois preferem agir e errar do que não defender.
Nem tudo nos pênaltis é sorte, psicologia ou loteria.
Especialistas buscam caminhos mais exatos para a melhor cobrança — e para a defesa dos goleiros também. Vejamos algumas probabilidades no momento do penal.
Assim existem as ciências fisiológicas, do treinamento, das táticas, médicas, psicológicas, sociais, dentre muitas outras, interagem junto dos jogadores e das equipes num ambiente transdisciplinar (todos os profissionais são responsáveis por todo o processo, inclusive partilhando decisões).
Já o departamento de análise de desempenho vem como um elo da ciência com o esporte dando embasamento para análises de atletas, de forma individual e coletiva, e mostrando que as análises quantitativas e qualitativas sobre o jogo têm muita influência na detectação de padrões e pode ajudar muito a melhora do desempenho.
Por isso, as investigações sobre o jogo (não só dados sobre o adversário, mas também informações sobre o próprio time) vêm aumentado muito e a análise de desempenho é um departamento relativamente novo que cresce cada vez mais no futebol de maneira geral e principalmente no Brasil nos últimos anos.
O analista de desempenho irá ajudar a responder: o time está desempenhando em alto nível? A melhor estratégia é cruzamento na área ou tocar a bola pelo meio? Quais características precisa ter um novo jogador que a ser contratado, para manter o rendimento nos jogos? Tenho atletas que não se encaixam no meu modelo de jogo?
Mas não é somente pegar números e colocar no computador, o profissional de análise de desempenho precisa ter grande conhecimento técnico e científico.
Seu conhecimento precisa ser aprofundado, pois ele precisa transmitir suas informações aos técnicos e atletas da forma mais clara possível.
Os softwares são ferramentas muito ricas, que têm auxiliado analistas de desempenho e pesquisadores sobre o jogo. Eles têm ajudado muitos analistas de desempenho, fazendo com que a informação seja captada mais fácil e rapidamente, e sendo assim repassada à comissões técnicas e jogadores, junto com suas análises.
O analista tem um papel muito importante nas comissões auxiliando na leitura de jogo e constantemente repassando conhecimento sobre o jogo, para que a cada nova partida tenha uma análise diferente. A análise tem função de diagnosticar, corrigir, observar os dados recolhidos e ceder informações importantes de jogadores e equipes, podendo identificar ações ocorridas no jogo.
A evolução da análise de jogo foi conseguida graças ao avanço da tecnologia e dos sistemas informatizados que ajudaram no armazenamento de dados e informações, atualmente vemos até sistemas de Big Data projetados.
O ritmo que a tecnologia avança é muito grande e o futebol não é exceção à regra; a necessidade de informações mais rápidas, precisas e relevantes sobre o jogo se faz cada vez mais necessária sobre a performance dos jogadores, não só em competições, mas também em sistemas que possam ajudar o treinador em treinos para a melhora da performance.
Então no que resulta a obtenção de dados?
Temos mais pessoas trabalhando com tecnologia para melhorar o desempenho no campo, a contratação e venda de jogadores, o desenvolvimento e a recuperação de atletas. Acima dos especialistas que cuidarão disso, veremos diretores procurando tomar decisões com base mais na evidência e na ciência do que achismo ou por instinto.
Alguns princípios devem ser aplicados para se obter sucesso em uma reunião entre comissão e atletas:
- Ir direto ao ponto, os vídeos curtos (entre 5 e 10 minutos) para assegurar a concentração máxima.
- Limitar a apresentação para uma única tarefa tática, para assegurar que todos os jogadores estão focados na solução daquele problema.
- O vídeo deve ter sempre uma conexão para a sessão de treino, ou seja, usá-lo como uma introdução para a sessão de treinamento posterior, ou feedback do treino já realizado.
- Metodologia da Descoberta guiada, ou seja, o diálogo deve ser sempre incentivado durante a reunião, para que todos os possíveis dilemas sejam discutidos. E para validar se os atletas e comissão estão falando a mesma língua.
Então, respondendo à questão inicial, futebol é arte de jogar, e também ciência.
Diríamos que o futebol, para poder ser mais e melhor arte, não pode hoje dispensar o recurso aos contributos da (boa) ciência.
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