UM OLHAR PARA OS ÁRBITROS DE FUTEBOL

 


A pretensão desta pauta é explicitar a importância da preparação psicológica do árbitro de futebol. 

Dentre os diversos personagens envolvidos numa partida de futebol, muito se questiona a respeito da preparação de atletas e equipes, em especial quando seu desempenho apresenta-se abaixo da expectativa ou, em poucos casos, quando o sucesso é repetido de modo tão consistente. 

Do mesmo modo, o árbitro de futebol é questionado e seu desempenho avaliado, mas sua preparação não é debatida ou incentivada. Cobra-se performance e perfeição desta categoria esportiva, e pouco sabemos a respeito de suas necessidades ou condições para demonstrar tão alto desempenho. 

O árbitro deve ter uma preparação técnica para interpretar todos os lances de um jogo, uma preparação física que permite que ele esteja próximo onde se desenvolve as jogadas, uma preparação psicológica que saiba transitar por um nível de ansiedade ideal, perceber as ações e as intenções do atleta, além de uma motivação para estar em constante aperfeiçoamento técnico, psíquico e físico, ou seja, em busca de integração, e decisão. 

Contudo, para compreendermos essa preparação e a atuação do árbitro, é importante identificarmos o contexto de sua inserção e atual apresentação no futebol mundial e brasileiro.

UM OLHAR PARA OS PILARES DA ARBITRAGEM DE FUTEBOL

Deste modo, busca-se a padronização da preparação e obviamente da atuação dos árbitros de futebol, de norte a sul do país, explicitados em quatro pilares, a saber: Pilar Técnico, Pilar Físico, Pilar Mental e Pilar Social. 

O Pilar técnico pauta-se no conhecimento das dezessete regras (Livro de Regras do Jogo), na atuação em campo, nas avaliações teóricas, e nos gestuais. 

O Pilar Físico volta se para as necessidades do Treinamento e da Avaliação Física. 

O Pilar Mental nome dado à atuação do Psicólogo do Esporte, trabalha com as habilidades e competências pautadas na concentração, foco, poder de decisão, e controle das pressões. 

Todos respeitando o Pilar Social, que procura entender as diversidades de cada Estado, com seus hábitos, costumes, questões climáticas, entre outros, e que visa aproximar a linguagem comum do meio, promovendo uma comunicação mais clara, coesa e nítida no campo de jogo.

O árbitro está sujeito às influências de sua realidade cultural, as alterações e interferências de seu estado emocional e cognitivo são tratados no Pilar Mental para que as preparações e reciclagens constantes do Pilar Técnico e Físico manifestem-se plenamente.

Por tudo isso, entende-se o crescente interesse na preparação e constante atualização da arbitragem de futebol, percebe-se assim crescente exigência nos testes físicos, nas avaliações teóricas, e, especialmente na atuação em campo. Tudo isto requer rigor nos treinos diários, e no período de Aprimoramento e Concentração.

 

OS QUATRO PILARES DA ARBITRAGEM DE FUTEBOL

I - PILAR FISICO 

Desde a criação da função de instrutor físico, percebe-se a melhoria acentuada na aprovação dos árbitros, nas avaliações físicas, bem como, no desempenho de suas atividades em partidas de futebol.

O árbitro bem preparado fisicamente facilita o entendimento das atividades físicas de forma continuada. 

Para exercer a atividade de árbitro de futebol, eles são avaliados periodicamente com protocolos de tempos estabelecidos para cada categoria, árbitro e árbitro assistente nos gêneros masculino e feminino. Para atingirem os resultados requeridos para cada categoria, eles recebem  treinamentos específicos, com um modelo de planejamento chamado periodização. A grande dificuldade neste pilar são as dimensões continentais do Brasil para um acompanhamento profícuo. Isto se da também nos demais pilares.

 

II - PILAR TÉCNICO 

Para alcance do indispensável e referido aprimoramento Técnico, são realizados cursos, seminários, treinos práticos em campo, e palestras periódicas, além de constantes discussões e troca de opiniões sobre lances especiais que ocorram.

Nesses estudos são tratados assuntos como:

a) Estudo das 17 regras (Livro de Regras CA/CBF), para alcance do pleno domínio e, principalmente, de seu espírito;

b) Análise de vídeos, para uniformidade dos critérios de interpretação e aplicação – técnico e disciplinar;

c) Linguagem verbal e corporal, como meio de controle do jogo e do próprio árbitro;

d) Treinamento prático integrado em campo (técnico – físico – mental);

e) Planejamento da arbitragem, envolvendo: preparação da viagem; chegada aos estádios; providências administrativas; sinais convencionais e especiais entre árbitros e árbitros assistentes; situações de conflito e áreas de atuação; saída do campo de jogo; saída do estádio; refeição; retorno ao hotel; e viagem de retorno;

f) Estudo dos regulamentos das competições;

g) Elaboração de relatórios, com noções de legislação esportiva; 

h) Orientações administrativas, sobre as entidades dirigentes e normas aplicáveis; 

i) Ética no futebol e na vida social.

 

III - PILAR SOCIAL 

Esse Pilar foca o trabalho conjunto de todos os Pilares, na medida de sua necessidade. Trata-se da integração de todos os aspectos da preparação, levando em conta as necessidades regionais e emergenciais da atuação da arbitragem. 

Neste trabalho, conta-se com os membros da Comissão que atuam nas emergências apontadas por árbitros, árbitros assistentes, diversidades regionais, alteridades em equipe, problemas de saúde, entre outras situações.

O homem árbitro é tão importante para o bom andamento do futebol, que cuidados como alimentação, sono, ética, aparência, viagem, acolhimento ao entrar em outra cidade, ou Estado, visita ao estádio, entre outras questões similares, passa pelo crivo esmiuçado deste Pilar. 

O árbitro antes de tudo é uma pessoa, um cidadão.

Diante desta realidade, pode-se assumir que todos os esforços, são direcionados à manutenção da harmonia pessoal e a boa atuação do árbitro, e árbitro assistente numa partida de futebol. Outro aspecto é o documental exigido anualmente de todos os componentes (certidões civis, criminais, atestados de antecedentes, exames médicos, etc).

 

IV- PILAR MENTAL 

Este trabalho corresponde ao trabalho realizado pelo Psicólogo do Esporte. Ainda que o trabalho desenvolvido contribua no sentido de promoção de saúde, busca de equilíbrio emocional e controle de estresse, o termo mental é utilizado pela Comissão de Arbitragem para designar a complementariedade ao aspecto físico na preparação do árbitro. Esclarecemos assim, que corresponde ao Pilar Mental todos os aspectos relativos à Preparação Psicológica do Árbitro, desde questões relativas à cognição, concentração e tomada de decisão até aspectos relativos à auto regulação emocional como o controle de ansiedade e o desenvolvimento de resiliência como habilidade necessária ao controle de estresse envolvido na atuação deste profissional. 

Segundo Markunas (2003), a preparação psicológica diz respeito a um processo em que os aspectos culturais e socioeconômicos do indivíduo são levados em consideração para o planejamento das atividades específicas que visam o desenvolvimento e aperfeiçoamento de habilidades psicológicas para o alto nível de desempenho, a fim de antecipar o enfrentamento e superação de desafios e exigências específicos da vida esportiva e das circunstâncias da competição.  O controle emocional é efeito dos procedimentos de orientação e treinamento psicológico, com uso de estratégias individuais e de auto regulação.

Ao longo do tempo, diferentes experiências e exigências ao trabalho de preparação psicológica foram realizadas. Dentro do contexto crescente, percebeu-se que o Trabalho Psicológico poderia ser dividido em três momentos:

  1. Nas ocasiões de atuação do árbitro, no vestiário, antes, durante e depois da partida de futebol, e mesmo em treinamento, nas atividades no hotel, ou hospedagem em concentração.

  2. Na sala de aula, nos trabalhos cognitivos, nos cursos de aprimoramento.

  3. No setting terapêutico (intervenção clínica) em circunstâncias específicas quando necessária.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ARBITRAGEM DE FUTEBOL COMO PAPEL SOCIAL

O VAR e a posição de impedimento

A morte faz parte, significativamente, da vida bem como o sofrimento humano.