El experimento de Asch - VAR E CIÊNCIA: COMO AS DUAS COISAS PODEM CAMINHAR JUNTAS!
Constatado o fato, já é seguro dizer que o sistema ainda não é um sucesso. Muito pelo contrário.
Apenas colocou em check definitivamente a atuação dos árbitros em quase todas as partidas em que há lances difíceis.
O VAR é uma tendência, indiscutivelmente.
Todo e qualquer esporte acompanha o andamento da tecnologia e vai se aprimorando.
No futebol não poderia ser diferente.
A implantação do recurso de vídeo é inevitável no esporte mais praticado do planeta – e ouso dizer que até demorou a chegar.
Mas a habilidade em arbitrar uma partida por quem opera o sistema lá da cabine é que eu quero colocar em questão aqui.
Mais do que chamar em lances que não deveria ou mesmo o árbitro principal errar utilizando o recurso, este colunista quer chamar a atenção para lances em que o árbitro acertou em campo, foi chamado pelo VAR e mudou sua decisão.
E não é raro.
Em praticamente todas as rodadas do brasileirão assistimos esse tipo de lance.
O desenho é o seguinte:
O árbitro, seguro de sua competência, toma uma decisão.
Segundos depois é chamado pelos assistentes de vídeo para rever o lance, pois esses acham que pode ter havido coisa diferente do que viu o árbitro.
Mas, embora a esmagadora maioria dos espectadores, amantes do futebol e até árbitros comentaristas de tv concordem que o árbitro acertou, ele muda a sua opinião após ver o vídeo – de vários ângulos, que mostra o seu acerto, apesar da opinião de seus colegas.
A que se deve a mudança?
Quem defende a implantação do recurso, frente aos que a criticam, apoia-se no argumento de que a decisão é do árbitro; se ele muda após ter acertado é porque é incompetente ou se deixa influenciar.
Aqui chegamos no ponto em que colocamos uma reflexão na cabeça do leitor: mas quem não é influenciado pela opinião do grupo, sobretudo aquele a qual pertence?
Acontece em todos os campos.
Em 1951, Solomon Asch realizou um experimento que ficou conhecido como “unanimidade burra de Solomon Asch”.
Para este estudo, Asch reuniu 31 voluntários, que foram colocados ao lado de outras quatro pessoas que sabiam do experimento.
Durante o procedimento, um apresentador colocava um desenho com quatro linhas de tamanhos diferentes para que as cinco pessoas falassem qual linha era a maior entre as quatro.
No começo, todos concordavam, porque era nítida a diferença de tamanho.
Mas depois, os “atores” começaram a mentir com convicção.
Eles erravam propositalmente para saber qual reação teriam aqueles que não sabiam do experimento.
Curiosamente, embora relutantes no começo, mais de um terço dos convidados concordavam com o grupo mesmo sabendo do erro – muitas vezes com expressões contrariadas.
O resultado do experimento de Asch é que as pessoas tendem a acompanhar o grupo em que pertencem mesmo sabendo que estão errados.
As pessoas estão sujeitas à influência o tempo todo.
É claro que o experimento de Asch não é diretamente ligado ao esporte, mas ele pode estar atrelado ao comportamento psicológico do ser humano na tomada de uma decisão, como a de confirmar uma escolha ou muda-la, no caso do jogo de futebol.
A questão final, voltando ao gramado, é: estaria o VAR atrapalhando a decisão dos árbitros?
O VAR influencia ou induz o árbitro ao erro quando ele acerta?
Será que os lances determinantes assinalados com ajuda do VAR são apenas erro de decisão do árbitro de campo ou o árbitro de vídeo tem muito mais responsabilidade nisso do que imaginamos?
A única certeza que temos é que, com ou sem influência psicológica na escolha do árbitro principal, o VAR ainda precisa de muitos ajustes, muito treinamento e quem sabe até um redesenho rigoroso para que ele traga mais bem do que mal ao futebol e elimine completamente o direcionamento de resultados e até títulos por causa de erros humanos reparáveis.
Comentários
técnicos sem formação – tanto como produtores desqualificados ou como consumidores
passivos – suprimem questões que deviam ser tensionadas a fim de pensar o papel de “atores”
num mundo reificado pela técnica. Isto gera duas questões para refletir: uma associada à
formação e outra aos interesses que atravessam a utilização do VAR. Quanto à primeira, é
importante assinalar que existe uma crença comum de que qualquer espectador está
qualificado para avaliar as regras. Acontece em quase todo evento esportivo, mas no futebol é
regra: todos acreditam ter competências para julgar se foi pênalti, se pegou na mão, se merece
cartão vermelho ou não etc. Desde que o árbitro de vídeo assista as mesmas imagens que cada
um pode assistir na tela do televisor, todo mundo tem os mesmos elementos para esboçar seu
juízo. Obviamente, o problema aqui é da técnica, do saber o que fazer com esses elementos, e
como muito bem expressou Ceferin, “ainda não está claro quando se deve resolver com o
VAR, nem como” (MONACO, 2018), principalmente porque não existe uma formação do
árbitro como tal – e até poderíamos arriscar um passo mais: tampouco existe uma formação do
espectador, questão bem colocada por Rancière em “O espectador emancipado” (2012).
em quatro situações de jogo específicas: gol (se foi legal ou fruto de uma infração), pênalti
(garantir que não se tomem decisões “claramente” errôneas na sua marcação), cartão
vermelho (garantir que não se tomem decisões “claramente” errôneas na expulsão ou não de
um atleta) e identificação equivocada de atleta (garantir que seja aplicada a sanção aos atletas
envolvidos na ação a ser penalizada) (FIFA, 2018A).
novas problemáticas, principalmente face aos limites interpretativos da regra (explícitos nos
termos “claramente” de sua regulamentação), bem como implicará em uma redução técnica da
experiência estética do futebol que envolve, inclusive, a imponderabilidade do erro de
arbitragem, bem como as capacidades criativas dos atletas ante os limites da regra. É esta
capacidade criadora nos limites da regra e na superação destes limites (vide La mano de Dios,
em 1986) que torna a experiência estética de quem pratica e assiste única