Por que há tanta violência no futebol?
A violência no futebol é um problema que afeta tanto os torcedores quanto os jogadores e as equipes.
Por que há tanta violência no futebol?
Por que há tanta violência no futebol?
Mais especificamente entre os torcedores.
Com muita frequência vemos notícias terríveis sobre acontecimentos entre torcidas rivais.
Como resultado da violência entre vários grupos de torcedores, muitas pessoas mostram sua perplexidade e espanto diante desse tipo de comportamento coletivo e não entendem as razões que levam a ele.
No entanto, a psicologia estuda o comportamento social dos grupos há muitos anos.
Aqui, tentaremos esclarecer o que está por trás desses comportamentos violentos e agressivos.
Violência no futebol a partir do processo de desindividualização
Não existe uma única teoria que reúna todas as razões que explicam esses fatos, mas existem teorias que as abordam.
Em primeiro lugar, para explicar a violência no futebol, abordaremos o processo de desindividualização.
Esse processo não explica a violência em si, mas o comportamento em grupo.
Imagine que estamos assistindo a uma partida de futebol e um jogador da equipe rival está perto de nós.
Se temos intenção de insultá-lo, mas estamos cercados por torcedores do time adversário, provavelmente não vamos fazê-lo.
Agora, o que aconteceria se estivéssemos cercados por torcedores do mesmo time?
Se os torcedores que nos cercam são da mesma equipe e sua intenção também for insultar, acabaremos atacando verbalmente o jogador da equipe rival.
Qual é a diferença entre as duas situações? O anonimato e a responsabilidade.
“A violência é o último recurso do incompetente”.
-Isaac Asimov-
Como destacado por Moral, Gómez e Canto (2004), “nessas situações, o anonimato, o grupo e a autoconsciência individual reduzida levariam as pessoas a ter comportamentos desinibidos, impulsivos e antinormativos”.
Quando nos escondemos no anonimato, nos tornamos mais propensos a ações violentas.
Se ninguém souber que somos nós que insultamos, faremos isso com maior frequência do que quando somos o centro das atenções.
Estando em grupo, a autoconsciência diminui, isto é, nossa responsabilidade é transferida para o grupo.
Deixamos de ser nós mesmos e nos tornamos o grupo, então podemos pensar “não sou só eu que insulto, e sim o grupo”.
Processo de conformismo
O conformismo é outro processo que poderia explicar a violência no futebol.
Este processo consiste na modificação da resposta de um indivíduo que se aproxima do que a maioria das pessoas expressa. Ou seja, mudar nosso comportamento para adaptá-lo ao grupo.
Como indicado por Paéz e Campos (2003), “conformismo é a mudança de comportamentos ou crenças devido à pressão de um grupo, que modifica as pré-condições do sujeito na direção da norma estabelecida pelo coletivo em questão”.
Nos grupos podemos encontrar vários tipos de normas, como a norma descritiva, que se refere a como se age dentro do grupo, e a norma prescritiva, que alude a como se espera que se atue.
O conformismo é um tipo de influência normativa, já que o indivíduo é capaz de mudar seu comportamento pessoal para adaptá-lo ao do grupo.
Ele é até mesmo capaz de realizar comportamentos totalmente opostos àqueles que seriam realizados individualmente.
“A vitória obtida pela violência equivale a uma derrota, porque é momentânea”.
-Gandhi-
Portanto, se nosso grupo de referência se comportar de forma violenta, não seria estranho adotarmos esse comportamento. Esse conformismo cresce à medida que os níveis de controle de grupo sobre seus membros e a interdependência entre eles aumentam.
Também cresce quando há uma certa incerteza ou ambiguidade, isto é, “quando não sei o que fazer, adoto o comportamento do grupo”.
O conformismo aumenta quando há semelhanças entre o grupo e o indivíduo.
Se alguém se sente muito identificado com um time de futebol e com a ideologia violenta de um grupo de torcedores, estará mais de acordo em realizar um comportamento violento.
Reflexão final
A violência no futebol é uma realidade que vivemos com muita frequência.
Expectativas excessivas em estímulos externos nos levam a depositar nossa felicidade em eventos como um jogo de futebol.
Se não recebemos uma educação adequada e estamos acostumados a resolver as diferenças pelo caminho da violência, não será difícil agirmos agressivamente diante de uma desavença.
Portanto, uma educação correta e respeitosa com os outros é uma base importante para evitar esse tipo de comportamento.
Um mundo interior rico e uma mente aberta e reflexiva também nos dará força e reduzirá nossa necessidade de fazer parte de um grupo.
Por trás dessa necessidade, muitas vezes se esconde uma falta de autoestima que tentamos aliviar pertencendo a um grupo.
O sentimento de pertencimento nos dá a sensação de plenitude emocional, de modo que buscamos fora a realização pessoal que não desenvolvemos em nosso interior.
Conhecer a si mesmo será essencial para evitar cair em grupos em que a violência é uma das máximas.
Afinal, quanto menor é nossa autoestima e quanto mais “forte” é o grupo, mais precisamos pertencer.
Então, se começarmos a respeitar a nós mesmos e aos outros, esse tipo de evento será coisa do passado.
O Brasil tem testemunhado um aumento nos casos de violência relacionados ao futebol neste ano. Pesquisadores apontam vários fatores que contribuem para a frequência desses episódios, mas a impunidade é um dos principais elementos desse cenário.
A sensação de falta de penalização entre os infratores.
Embora o Estatuto do Torcedor seja severo em relação às medidas de controle, a impressão é que ele é pouco aplicado.
No Brasil, a punição é muito menos frequente.
O Estatuto do Torcedor já prevê punições para casos semelhantes no Brasil. No entanto, a efetiva aplicação da norma é o que diferencia a Europa do Brasil.
Enquanto lá cerca de 46 mil torcedores foram presos nos anos 2000, aqui a realidade é bem diferente.
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