quarta-feira, 27 de julho de 2022

O VAR, o espetáculo e algumas das suas contradições.

Foto: SporTV (reprodução)
No manual das regras do jogo publicado em junho deste ano, a CBF explica, entre outras coisas, as regras do jogo e o protocolo acerca do VAR. Para comparação, nenhuma das 17 regras do jogo tem mais de 12 páginas dedicadas exclusivamente para si, sendo a regra 5 (do árbitro) a mais extensa. 
Ao mesmo tempo, a seção do VAR tem 30 páginas. 
Ali estão os princípios, práticas, procedimentos e mudanças de regra feitas com a perspectiva do uso do vídeo e é feita logo de imediato uma distinção entre os princípios e filosofias das regras de jogo e do árbitro de vídeo, com o compromisso de se adaptar aos valores de jogo “na medida do possível”.


Em junho de 2019 escrevi uma crítica ao árbitro de vídeo (O VAR é burro),  mas um ano depois trago outras críticas, mais aprofundadas sobre o fenômeno que parece se renovar a cada semana com novas polêmicas e casos que provoca. 

Devo também corrigir uma informação que trouxe no texto anterior onde disse que o VAR começou a ser usado na Austrália. 

Existe uma discussão ao redor da sua estreia mas no mínimo, a Austrália foi um dos primeiros países, mas não sei ao certo qual foi a primeira competição a usar.

Entre 2012-13 na Eredivisie foram feitos os primeiros testes para o uso do árbitro de vídeo e em 2014 a IFAB (International Football Association Board) ampliou os testes. 

O primeiro uso da ferramenta em uma partida foi em amistoso entre PSV e FC Eindhoven em julho de 2016. 

Dois anos depois seria usada no maior evento de futebol espetáculo do mundo: a Copa do Mundo de futebol masculino.

Em “Sociedade do Espetáculo”, publicado em 1967 por Guy Debord, o espetáculo é definido como a relação social mediada pelas imagens; uma visão de mundo a partir de escolhas predeterminadas na produção das imagens, com sua forma e conteúdo justificando os seus fins. 

O real é criado a partir do espetáculo e o espetáculo surge do real, formando uma relação recíproca, alienante e dona do monopólio da aparência. 

Afinal, como discutir com o que está visível?

O futebol de espetáculo seria então aquele onde a relação é mais mediada pela manipulação das imagens, podendo variar por diferentes fatores. 

Apelo comercial, marketing, “superestrelas”, perfil do público, enfim, qualquer fã de futebol percebe facilmente o nível de espetacularização de um jogo. 

Todos estes meios, porém, dependem da capacidade de transmissão imagética, uma vez que a televisão – e outros meios de transmissão com imagens – é a principal forma de produção de imagens e a única capaz de fazê-lo ao vivo.

Com as dezenas de câmeras espalhadas nestes espetáculos, é construída uma narrativa do jogo assim como uma equipe de cinema pensa na narrativa de seu filme. 

Os replays escolhidos, as câmeras usadas, os momentos transmitidos, os sons do ambiente e os comentários de especialistas criam um jogo único. 

Por isso um mesmo lance pode parecer muito diferente pelo rádio ou pela TV, mas também com narrações diferentes pela TV, imagens diferentes ou até mesmo com a TV no mudo. 

Algumas das melhores colunas de Nelson Rodrigues sobre o Fluminense foram escritas mesmo com sua incapacidade de assistir os jogos, dependendo apenas do rádio, comentários de testemunhas ou dos sentimentos que o jogo provocou nos torcedores.

O jogo de futebol não se trata um jogo objetivo, frio, capaz de ser completamente racionalizado. 

Futebol é um jogo acima de tudo humano, por isso é quente e acontece no momento. 

Noções acerca do impedimento, mão na bola e outros acontecimentos foi construída socialmente ao longo da história não apenas por o que é visto, mas também a partir de valores e sentimentos morais em conjunto com o que se vê no presente. 

Daí vem a noção de “mesma linha” nos impedimentos muito difíceis, distância para ser considerado mão, intenção e por aí vai.

As contradições do VAR se acumulam: de acordo com as diversas entidades esportivas que o utilizam, ele deve ter máximo benefício e mínima interferência. Seu uso deve ser para lances óbvios, como explica o IFAB, sendo este tipo de lance aqueles onde não exista dúvida sobre a decisão. 

Tal instrução tende a induzir o árbitro a mudar sua decisão quando é chamado para rever um lance que, mesmo não sendo claro – e neste caso a decisão de campo deveria prevalecer – os árbitros brasileiros mudam suas decisões aproximadamente 80% das vezes, como apurado em agosto de 2019. E dados levantados pelo SporTV em agosto apontam que o Brasileirão 2020 estava com 68% mais paradas para uso do VAR, além do aumento de mais de 20% das decisões após checagem. 

Há até a instrução para os árbitros irem mais à tela para não dar a impressão de que o VAR é quem toma a decisão. O vídeo, que se propõe como ferramenta, vai além disso com sua característica fetichista.

O VAR provoca um desencantamento do jogo pela forma como é utilizado. 

Depois da recente partida entre Santos e Flamengo pelo Brasileirão, onde teve mais de 10 minutos de paralisação por conta de revisões, Cuca reclamou falando “os caras estão chamando a arbitragem pra ficar discutindo por 5 minutos. Não tem como não ficar pilhado. Eu não entendo mais as regras do VAR […] Não está havendo uma correção. A interpretação de campo fugiu, hoje quem apita o jogo é o árbitro de vídeo”.

Concordando ou não com ele, fato é que o sexto princípio do VAR diz que “Não há restrição de tempo para o processo de revisão. A precisão é mais importante do que a velocidade”. 

Neste jogo – e em vários outros que poderíamos pensar – não há uma “máxima interferência”? 

E se pensarmos no jogo recente entre Tottenham e Newcastle na Inglaterra, a marcação de mão contra o Tottenham, em um lance que irritou a todos (exceção talvez para os fãs do Newcastle) houve ali algum benefício? 

O quê exatamente é esse benefício, e para quem? Poderíamos os questionar também uma partida do Manchester United onde há pênalti marcado para time de Manchester após o término da partida. 

Se até uma partida terminada pode ser revisitada, qual é o limite?

Em tempos em que é difícil terminar qualquer produção de entretenimento, fazendo séries se arrastarem e alguns filmes ressurgirem do baú, me pergunto se agora uma partida de futebol começa a ser esticado, apesar de certa forma isso já acontecer com programas pós-jogo, mas vamos voltar ao ponto.

Hudson Martins escreveu em 2019 críticas importantes acerca do VAR na sua coluna da Universidade do Futebol. 

Tratando sobre as arbitrariedades nas produções de imagens, Hudson lembra que o processo de decisão sobre quais lances serão revistos e consequentemente, quais não serão, já carrega uma ideia que quantifica e atribui diferentes valores pré-determinados para cada tipo de lance de uma partida. 

Tal decisão vai contra a própria natureza fluida e dinâmica do futebol, onde só é possível ter uma noção do valor de uma jogada após o fim do jogo.

A manipulação das imagens, ao escolher o quê será revisto e o quê se busca, isola um lance do jogo do seu todo, esvaziando-o de seus múltiplos significados para ser preenchido pelo o que é proposto na produção daquelas imagens. 

Daí alguns lances banais se tornam erros absurdos ou é possível “achar” algo que se busca, bastando usar o ângulo certo e as ferramentas adequadas.

Vamos ao exemplo dado por Hudson: o primeiro gol da França na final da Copa 2018 contra a Croácia surge de uma falta marcada por uma simulação de Griezmann. 

A falta, porém, como não é um “lance capital” não é revisto (ou é, mas nada pode ser feito). Mais tarde no jogo a França teria um pênalti a seu favor em lance parecido com o ocorrido entre Tottenham e Newcastle.

Complemento com a partida entre Fluminense e Bahia, no último dia 11 de outubro pelo Brasileirão 2020. Houveram dois lances para marcação de pênalti que o comentarista da transmissão acusava a penalidade para o Fluminense. São lances, no máximo, discutíveis. 

O primeiro foi uma situação idêntica ao jogo citado do Tottenham e não foi marcado nada. No segundo lance, agora uma falta, foi marcado o pênalti após revisão do vídeo. 

Vê aí o caráter fetichista do VAR, pois ele que só deveria intervir (pelo regulamento) em “lances óbvios” interviu e influenciou a decisão do árbitro no campo, o quê inclusive causou ira – ao meu ver justificada – do treinador do Bahia.

Um ano atrás a CBF celebrava que o percentual de acerto em lances capitais subiu de 68% sem o VAR para 92% com o VAR. De acordo com a CBF, o Brasil seria em 2019 o país com mais jogos com uso do VAR, superando 420 partidas. 

Apesar dos números aparentemente positivos, as polêmicas se acumulam junto das páginas sobre interpretação do seu uso. É uma batalha sem fim entre uma tentativa de leitura cada vez mais objetiva do futebol, que é essencialmente subjetivo.

O VAR, porém, pode ajudar a perceber casos de racismo no jogo além de outros tipos de agressão. Mas hoje, com a possibilidade de tudo enxergar, o caminho escolhido nos torna reféns das imagens, incapazes de superar o controle da visão sobre os outros sentidos. A capacidade humana de interpretar o jogo foi deixada de lado em nome de algumas porcentagens a mais de acerto – mesmo que ainda duvidosos.

Foto: Reprodução / Fernando Torres / CBF
As transformações tecnológicas fazem parte da história do futebol, essa não é a questão. 
O futebol, como muitas outras coisas, caminha a passos largos rumo à uma total comodificação da vida na era do neoliberalismo. 
Imensas concentrações de riqueza em escala nunca antes vista, devaneios sobre clube-empresa, agentes superpoderosos, jogadores tratados como coisa e quase como ações em uma bolsa e gentrificação nos estádios, os reflexos estão evidentes de muitas formas mas compartilham a mesma raiz. Deve-se questionar a noção da neutralidade da tecnologia e a ideia de progressão homogênea do desenvolvimento. 
Existem, é óbvio, interesses por trás e além disso, eles muitas vezes vão muito além do futebol, afinal trata-se de um negócio global. A utilização do vídeo pode trazer benefícios ao jogo assim como por outro lado pode ser muito mais voltado para o espetáculo, que não necessariamente está em sintonia com o jogo.

Existem lances que sempre provocarão discussão no futebol. Pensar que discussões públicas e “racionais” resolverão questões entre posições morais distintas e antagônicas é ilusão, mas a racionalização exagerada custa caro ao jogo, que deve seu encanto justamente na sua capacidade de provocar as mais diversas emoções intensas, seja em um gol no último lance ou até mesmo em decepções e injustiças, desde que faça “parte do jogo”. 

Ao retirar essa margem deste “contrato social” do jogo e romper com o andamento da partida para lances que são imperceptíveis das arquibancadas mas verdadeiros escândalos milimétricos pela TV, o mínimo esperado é a perfeição de julgamento em jogadas óbvias, algo que não acontece.

O VAR é a perversidade do bem; atacando a cultura futebolística, cancelando celebrações de gols ou promovendo celebrações envergonhadas após minutos de revisão de um lance, criando o que chamo de pós-gol (quando se comemora a validação do gol e não o gol em si). 

A perversidade está em nos fazer achar que isso é bom, nos tornar acríticos defensores que aceitam sob sorrisos e aplausos que o caminho é tornar futebol em uma espécie de vídeo-game ou alguma distopia digital pós-moderna.

Tecnologia em cheque: O VAR brasileiro e a sequência de decepções


Críticas ao árbitro de vídeo evidenciam que a ferramenta está longe de ser unanimidade entre torcedores e profissionais do futebol

O VAR surgiu para acabar com os erros de arbitragem e trazer mais justiça para o futebol. 

Apesar disso, é quase um consenso que a tecnologia está longe de alcançar o seu objetivo

Pior: é motivo de críticas pelo seu uso excessivo.

Nas últimas semanas, uma série de decisões questionáveis colocou, novamente, a tecnologia no centro do debate. 

Muitas vezes, em vez de auxiliar na condução da partida, o VAR tem efeito negativo e deixa torcedores e profissionais irritados com os resultados.


VAR coleciona decisões polêmicas no futebol brasileiro

Desde a introdução completa do VAR no Campeonato Brasileiro, uma série de lances geraram muita polêmica.

A ideia inicial era acabar com erros relacionados a impedimentos e gols não marcados, por exemplo, mas o que se vê são muitos pênaltis e expulsões, no mínimo, controversos.

Por isso, há um questionamento sobre a validade do uso da tecnologia no esporte. 

É verdade que muitos acertos fizeram a diferença no resultado — nem tudo deve ser questionado.

Porém, seus erros ganham as manchetes, principalmente com muitos lances que não deveriam ser revisados.

Relembre algumas polêmicas do VAR nas últimas semanas:

  • Pênalti e expulsão de Philippe Sampaio — Inter 2 x 3 Botafogo (Brasileirão Série A)
  • Pênalti para o Criciúma — Criciúma 1 x 0 Vila Nova (Brasileirão Série B)
  • Pênalti e expulsão de Lucas Perri — Tombense 1 x 1 Náutico (Brasileirão Série B)
  • Pênalti para o Athletico — Coritiba 0 x 1 Athletico (Brasileirão Série A)
  • Pênalti para o Corinthians — Corinthians 1 x 0 Goiás (Brasileirão Série A)

Protagonismo da tecnologia rende críticas

Uma crítica comum dos torcedores é sobre o “intervencionismo” da tecnologia. 

Ao contrário de outros países, como a Inglaterra, onde a tecnologia é acionada somente em lances claros, o VAR brasileiro participa com frequência do jogo.

Um exemplo são os lances interpretativos, como a marcação de um pênalti ou expulsão. 

Muitas vezes, a visão do árbitro, que estava próximo do lance, é substituída por uma imagem em câmera lenta ou pela escolha diferente do árbitro de vídeo.

Isso ajuda a explicar o motivo de, em diversos lances, o árbitro deixar o jogo seguir corretamente, mas ser chamado para ver novamente e muda de ideia. 

As chances de trocar a decisão na cabine são maiores, por conta da influência externa.


Irritação com a demora das decisões

Outro ponto é a demora para tomar decisões. 

Antes de chamar o árbitro para olhar o vídeo, o VAR pode demorar minutos para deliberar sobre um possível cartão vermelho ou mesmo para traçar a linha de impedimento.

Mesmo na Libertadores, esse tipo de lance costuma levar poucos segundos, mas o futebol brasileiro parece ser o recordista de tempo para tomar decisões no VAR. 

A insegurança com os erros anteriores pode ser um motivo.

De qualquer forma, o jogo fica lento, com muitas interrupções. Somado ao fato de muitas decisões não serem unânimes, cria-se um ambiente desfavorável para o VAR.


CBF tenta contornar as críticas

A CBF vem testando novas ferramentas para diminuir os problemas com o VAR. 

Na última semana, o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Wilson Seneme, afirmou que a entidade vai mostrar a construção da linha de impedimento na transmissão.

Além disso, a CBF também planeja divulgar mais áudios da comunicação entre o grupo de arbitragem, incluindo aqueles que não tiveram revisão na cabine. Atualmente, somente os lances checados são disponibilizados, mas a ideia é trazer mais transparência.

Há também a ideia de realizar treinamentos mais constantes com os árbitros que operam o vídeo. De fato, algo precisa ser feito para contornar esses problemas.


Brasil não terá representantes no VAR da Copa do Qatar

Um sintoma do desempenho abaixo da média do VAR no Brasil é a falta de árbitros de vídeo brasileiros entre os profissionais que vão trabalhar no Qatar, durante a Copa do Mundo. Pela primeira vez na história, dois oficiais foram escalados pela FIFA, mas ninguém para o VAR.

Raphael Claus (SP) e Wilton Pereira Sampaio (GO) serão os representantes do país no Mundial. Além deles, os assistentes Bruno Boschilia, Bruno Pires, Danilo Simon, Neuza Back e Rodrigo Figueiredo estão escalados.

Dessa forma, fica claro que o VAR ainda tem muito espaço para avançar nas suas decisões no futebol brasileiro.

Lances como a expulsão de Philippe Sampaio, no jogo entre Inter x Botafogo, demonstram que será necessário novas diretrizes e mais treinamento para os nossos árbitros. 

O VAR deve ser a solução, não o problema.


terça-feira, 26 de julho de 2022

CBF conclui primeiro Encontro de Presidentes de Arbitragem

 

14/07/2022 às 18:51 | Assessoria CBF

Evento teve três dias de duração e proporcionou troca de informações entre representantes estaduais de arbitragem

Créditos: Matheus Guerra/CBF

Nesta quinta-feira (14), chegou ao fim a primeira edição Encontro Nacional de Presidentes das Comissões de Arbitragens Estaduais, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ). O último dos três dias de evento contou com reuniões setoriais, que permitiram a comissão nacional avaliar e diagnosticar necessidades da arbitragem brasileira. 

A atividade foi realizada a partir da divisão de quatro grupos comandados por integrantes da Comissão de Arbitragem da CBF. 

Tendo como temas VAR, corregedoria e ouvidoria, comissão de arbitragem e técnico-físico, os 27 representantes estaduais tiveram a oportunidade de expor suas demandas e sugestões de melhoria. 

Gerente Técnico do VAR, Péricles Bassols ressaltou a importância do VAR para as federações e principalmente para a validação do jogo em competições brasileiras.  

"O futebol pede, os times pedem, o público pede, a torcida pede. O VAR é de extrema importância. Tem que ser cada vez mais debatido e desenvolvido. A gente tem buscado isso junto à FIFA e depois a gente transfere essas informações todas para as federações para que eles saibam como podem agir, como devem agir. Sempre sob supervisão da CBF, porque a CBF é o elo com os protocolos FIFA e nenhuma federação pode caminhar sem essa conexão", enfatizou.

Visando o aprimoramento dos profissionais da arbitragem, Roberto Perassi, Gerente de Ensino de Arbitragem, enfatizou o valor do desenvolvimento de profissionais qualificados para a arbitragem brasileira.

"Da nossa parte, juntamente com as demais gerências da comissão de arbitragem, é trabalhar o desenvolvimento da arbitragem, seguir no processo de qualificação das pessoas. Isso é muito importante para o próprio desenvolvimento da arbitragem nacional. Em cada estado, em cada região, a possibilidade de trabalhar essa qualificação, esse desenvolvimento. Quando (eles) vão chegar no quadro nacional, que eles cheguem fortalecidos, já cheguem com boa base, já cheguem com a filosofia que a presidência da comissão de arbitragem, juntamente com os membros, vão fazer de acordo com o quer a FIFA preconiza. Essa é a ideia central", disse.

Gerente Geral do Centro de Excelência da Arbitragem Brasileira, Alício Pena Jr.. avaliou positivamente o encontro inédito. Para ele, entender os cenários que dificultam o aprimoramento da arbitragem brasileira foi essencial. 

"Muito positivo, cumpriu tudo o que a gente previa e que a gente entendia que seria necessário. As federações manifestando as suas dificuldades, as suas necessidades e a CBF, por seu lado, também manifestando a sua condição de apoiar, de incentivar e de buscar esse aprimoramento tanto de arbitragem quanto de instrução para os estados. A gente entende que foram plenamente atingidos os objetivos e agora com base em tudo que foi acertado, trabalhado aqui a gente poder desenvolver ações para avançar com arbitragem brasileira", destacou .

Ao final do encontro, Wilson Seneme, presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, enfatizou que os objetivos estimados para o encontro foram atingidos. Além disso, explicou que a relação entre a entidade e federações é essencial para o processo de formação de árbitros.

"Esse encontro foi muito exitoso, é um primeiro encontro, o objetivo era realmente abrir as portas para um novo trabalho, demonstrar os objetivos e o projeto que a gente tem de hoje em diante para a arbitragem brasileira. Que eles (presidentes das federações) saibam que nós estamos abertos a eles. A gente precisa do apoio das federações, deles que são a ponta inicial do processo de formação de um árbitro, e essa uma formação é continua, que a CBF necessita desses árbitros cada vez mais qualificados nos seus estados", finalizou.

sexta-feira, 22 de julho de 2022

A ALIENAÇÃO SOCIAL



Alienação social é um termo que se refere à maneira pela qual membros de uma sociedade tornam-se padronizados e perdem – ainda que parcialmente – seu senso crítico.
Dessa forma, surge como consequência o “senso comum”, que é um conjunto de crenças e suposições populares edificadas a partir da falta de reflexões profundas.
Ou seja, o senso comum é o que torna tudo raso e supérfluo.
A palavra “alienação” vem do latim alienus e significa “algo que vem de outra pessoa”.
Karl Marx foi um dos principais filósofos que estudaram o significado da palavra “alienação”, bem como suas causas e consequências.
Em suas obras, o pensador alemão relacionou essa palavra diretamente à noção de trabalho, explicando que os homens, para sobreviver, submetem-se à venda de sua força de trabalho e isso gera desigualdade social e ocasiona uma divisão das relações sociais.
Assim, para Marx, um sujeito submete-se à alguma coisa sem ao menos questionar sobre as razões históricas e sociais que fizeram com que tal coisa se tornasse aquilo que é.
Há uma categorização elaborada em torno do tema “alienação social”, que a divide em três classes: a alienação econômica, a intelectual e a social.

Na econômica os produtores não se veem como produtores.

Na social o homem sente-se separado do meio externo e coloca a sociedade como sendo “o outro”.

E na intelectual os indivíduos consideram as ideias como sendo universais, tomam-nas como verdades absolutas, reproduzem-nas e tendem a perder seu senso reflexivo.

Todas elas, apesar de suas diferenças, possuem um aspecto em comum: resultam num mesmo fator, que é o surgimento de uma Ideologia.

A Ideologia é uma elaboração intelectual da classe dominante e dirigente, que passa a ser incorporada pelas outras classes sociais.
Assim, essas outras classes (compostas pelos cidadãos alienados) irão reproduzir as ideias, pensamentos e opiniões dos dominantes ou dirigentes.

Dentro de tal contexto, aqueles que se tornam alienados e, conforme já mencionado anteriormente, perdem sua capacidade crítica, passam a reproduzir o que lhes é passado pelos outros e acabam por viver num mundo de aparências e dissimulações, pois encaram e vivem seu cotidiano somente sob uma perspectiva já formulada por outros e não por eles próprios (conforme a tradução da terminologia latina citada anteriormente: algo que vem de outra pessoa).

Portanto, esses indivíduos alienados irão se submeter aos valores pregados pelas instituições vigentes.

O grande problema da Alienação Social, qualquer que seja a categoria em que se manifeste, é que o indivíduo atingido por ela torna-se padronizado e tem seus pensamentos limitados.
Filosoficamente isso é um grande obstáculo, pois representa a perda da autonomia dos homens, além de significar uma aceitação e um plágio inconsciente do que outras pessoas dizem e pensam.
A Filosofia deve atuar na batalha contra a perda do senso crítico, pois é capaz de despertar a indagação no ser humano e levá-lo a examinar a realidade que o cerca, podendo assim instaurar a emancipação do pensamento, da consciência e da subjetividade de um homem.

ps: (considere uma comparação com as sessões em sua Loja e identifique se é necessário deixar de ser Senso Comum para se tornar Senso CRÍTICO)

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Tudo se aprende, nada se ensina!!


Tudo se aprende, nada se ensina


O mundo só se nos mostra pelos nossos sentidos, e a complexidade e a variabilidade da realidade ultrapassam a nossa capacidade de absorver a individualidade de cada ocorrência. 

Para lidar com essa complexidade generalizamos, sintetizamos e normalizamos, considerando, de acordo com a nossa vivência, serem idênticas coisas que, na verdade, são ligeiramente diferentes. 

Este mecanismo faculta-nos mais informação, que. por sua vez, nos permite entender, antecipar e reagir melhor àquilo que sucede em nosso redor. 

No entanto, não há duas vidas iguais; não há duas experiências do mundo iguais; não há duas realidades iguais. 

Por isso é que o mundo, tal como o apercebemos, é, mesmo que imperceptivelmente, distinto do mundo tal como é apercebido por qualquer outra pessoa. 

Assim, porque cada um é fruto da visão que tem do mundo, é natural que seja única e irrepetível a matriz que estabelece a própria concepção identitária de cada um de nós.

Assim, podemos dizer que a nossa identidade passa pelas convicções que decorrem da nossa experiência ao longo da nossa vivência. 

Ora, essas nossas convicções –especialmente na arbitragem desportiva– são um pouco como a nudez física. 

Assim, há quem, (à semelhança dos exibicionistas) esteja disposto a desnudar a sua intimidade do ser, do crer e do pensar, expô-la e questioná-la; e, como agressão, o mero questionamento das suas convicções, sentindo que tal abalaria a delicada construção interna da sua relação consigo mesmo, com o mundo e com os outros.

Uma disputa de bola pode ser vista como um ecossistema de pessoas que se reencontram vezes e vezes a fio e que sabem que podem “baixar as defesas” e, sem receio, expor o seu ser, o seu saber e a sua experiência para benefício dos demais envolvidos na disputa. 

Cada um apresenta, na medida que entende fazê-lo, e mediante o seu grau de conforto em revelar-se, a sua visão do mundo e a súmula que dela fez – a sua pessoal e única experiência – com o intuito de que cada um dos demais possa ver o mundo por outros olhos e retire daí os ensinamentos que entenda.

Atacar essa matriz assim exposta seria atacar a pessoa no que tem de mais íntimo, de mais pessoal, de mais sagrado. 

Por isto, uma das primeiras coisas que se aprende no dia a dia é  respeitar a diferença e a diversidade, sejam estas de pontos de vista, de crenças ou de convicções. 

Cada um dá um pouco de si; quem quer colhe, daí, o que lhe aprouver. 

Ninguém é obrigado a aderir a conclusões conjuntas, a versões definitivas, a consensos alargados; estes procuram-se apenas até onde é possível fazê-lo sem atropelar a convicção e a vontade de cada um.

É esta uma das formas através das quais a arbitragem desportiva toma homens bons e os torna melhores. 

É assim que tudo se aprende e nada se ensina. 

E é assim, e por isso, que  se aprende a calar tudo quanto possa perturbar este equilíbrio.